Na manhã desta quarta-feira (10), foi realizado em nosso auditório, o “CINE CTUR”. Tivemos a exibição do filme Travessia, produzido pelo cineasta Wallace Souza, além de uma palestra com o tema “Quem tem medo de ser negro?”, ministrada pela guarda municipal e ativista Karla Osana. Após a palestra, foi aberto um debate com a participação de Wallace Souza, Karla Osana e da psicóloga da UFRRJ, Vera Silva.
A iniciativa faz parte da campanha Setembro Amarelo do CTUR. O foco central do debate foi a resistência e a herança do povo negro. O filme Travessia conta a história dos negros escravizados do continente africano, a partir da ótica daqueles que morreram na travessia para o Brasil, sendo desumanizados e submetidos aos horrores do encarceramento.
O diretor Wallace Souza explica qual é a proposta do espetáculo: “O percurso do espetáculo se passa sob a ótica daqueles que não fizeram a travessia, que não chegaram a ser escravizados. Então, tentar pensar naqueles que morreram durante a travessia.” Ele ainda comenta sobre a ideia de morte que tinham os escravizados: “Mortos pela violência durante a travessia ou por vontade própria. Para eles, naquele momento, a morte, o suicídio, o autoextermínio não estavam ligados a nenhuma questão religiosa. Era voltar para casa, já que não sabiam para onde estavam indo”, revelou Wallace.
Com a provocação do tema da palestra, a ativista Karla Osana ressaltou a importância de incentivar os jovens negros a se aceitarem e se conscientizarem: “Pelo que eu pude observar, 50% daqui são pessoas negras, mas que, pelo próprio comportamento, nós vemos que não se reconhecem ainda. Quando é aberto um espaço onde nós podemos fazer uma provocação, conseguimos fazer com que a mente se abra, porque o objetivo aqui é passar um conhecimento para a pessoa começar a pensar e se reconhecer”, afirmou Karla.
Durante o debate, os alunos tiveram a oportunidade de falar sobre suas próprias experiências, lutas e preconceitos enfrentados. A estudante Gabriela Gomes, do Ensino Médio, ficou muito tocada e destacou a necessidade de eventos como esse: “Para mim, como uma menina preta que passa por esse racismo estrutural, é muito importante saber que eu sou ouvida por alguém, sabe? Alguém entende pelo que eu passo, alguém fala sobre isso e grita sobre isso. Uma coisa que, na maioria das vezes, eu não consigo fazer por medo mesmo”, disse Gabriela.
Fotos: Luan Cezário